terça-feira, 4 de novembro de 2014

Sapato novo

Comprei um sapato novo, tem sensação mais gostosa que comprar? ainda mais sapatos? E se for sapatos, roupas, bolsa e maquiagem então?
O problema do sapato novo é que ele aperta um pouco, faz calos, mas o importante é que é bonito, e além do mais ele laceia e depois se torna além de bonito, confortável.
Calço para ir trabalhar, caminho até o carro e tudo certo, chego no trabalho tem mais uma caminhadinha e chego ao escritório onde ficarei sentada quase o dia inteiro, enquanto isso os pés descansam fora do sapato, sofrimento mínimo.
Mas não há uma só vez que eu não me lembre do ano de 2008, o ano em que mais machuquei meu pé, caminhava vinte minutos para chegar ao mesmo trabalho que estou hoje, caminhada longa e reflexiva, lembro que a dor que sentia nos calcanhares era o impulso de querer vencer, pensava comigo mesma que logo logo eu lembraria daquele momento como algo distante como hoje é. Mas continuava caminhando, os calcanhares friccionando com o couro sintético novo, a cada passada uma dor, o pé esquerdo parecia que nem existia, mas o direito foi feito para me fazer sofrer, primeiro as bolhas, as vezes apertava o cantinho do dedão e o dedo mindinho parecia que não pertencia ao pé de tanto que incomodava. Quando chegava ao serviço a sensação era de chegar ao paraíso, mas tinha a volta, onde tudo voltaria a acontecer em um pé já machucado, mas eu aguentava firme, tirar os sapatos e seguir descalça? nem pensar, respirava fundo, me aguentava, o pior momento era a hora de atravessar a faixa de pedestre, sei que o passa tempo dos motoristas entediados é observar minunciosamente o pedestre que passa a frente de seus olhos e eu, respirava fundo e seguia naquele interminável caminho, ignorando a dor dos pés calejados. Ufa, faixa de pedestre atravessada e só faltava mais um pouco para chegar em casa, os últimos metros eram os mais difíceis e ao chegar em casa, no meu lar doce lar, o sentimento era de alívio, felicidade, prazer e como disse Machado de Assis:

"Botas...as botas apertadas são uma das maiores venturas da terra, porque, fazendo doer os pés, dão azo ao prazer de as descalçar."

E no outro dia calçar o mesmo calçado nem pensar, tinha que calçar o velhinho mesmo, daí quando sarava os machucados o sapato novo não machucava mais, era como se ele precisasse marcar seu território, para depois ser inofensivo.

E foi assim durante um ano, marcado por vários calçados novos e vários machucados, credito boa parte do meu esforço e determinação àquelas sofridas caminhadas.


Meu inofensivo e lindo sapato novo


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